segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Desfibrilação de acesso público e parada cardíaca fora do hospital







Veja esse interessante artigo publicado no dia 27/10/2016 no New England Journal of Medicine:

Tetsuhisa Kitamura, MD, DPH, Kosuke Kiyohara, DPH, Tomohiko Sakai, MD, Ph.D., Tasuku Matsuyama, MD, Toshihiro Hatakeyama, MD, Tomonari Shimamoto, RN, MPH, Junichi Izawa, MD, Tomoko Fujii, MD, Chika Nishiyama, RN, DPH, Takashi Kawamura, MD, Ph.D., e Taku Iwami, MD, MPH, Ph.D.

N Engl J Med 2016; 375: 1649-1659; October 27, 2016


Introdução

A desfibrilação precoce desempenha um papel fundamental na melhoria da sobrevivência em pacientes com paradas cardíacas fora do ambiente hospitalar devido a fibrilação ventricular (paradas cardíacas por fibrilação ventricular), e o uso de desfibriladores externos automáticos, acessíveis ao público (DEA) pode ajudar a reduzir o tempo de desfibrilhação para tais pacientes. No entanto, o efeito de difusão dos DEA de acesso público para parada cardíaca por fibrilação ventricular ao nível da população não tem sido extensivamente investigado.

Métodos

A partir de um registro de âmbito nacional, prospectivo, de base populacional de pacientes com parada cardíaca fora do hospital no Japão, foram identificados os pacientes de 2005 a 2013, com paradas cardíacas por fibrilação ventricular assistidas de origem cardíaca presumida em que a reanimação foi tentada. O desfecho primário foi a sobrevida em 1 mês com um resultado favorável neurológico (Categoria de Desempenho Cerebral de 1 ou 2, em uma escala de 1 [bom desempenho cerebral] a 5 [morte ou morte cerebral]). O número de pacientes nos quais a sobrevivência com um resultado neurológico favorável foi atribuível ao acesso público a desfibrilação foi estimado.

Resultados

De 43,762 pacientes com paradas cardíacas de origem cardíaca por fibrilação ventricular, 4499 (10,3%) receberam a desfibrilação de acesso público. A percentagem de doentes que receberam a desfibrilação de acesso público aumentou de 1,1% em 2005 para 16,5% em 2013 (P <0,001 para tendência). A percentagem de doentes que estavam vivos em 1 mês com um resultado neurológico favorável foi significativamente maior com o acesso público a desfibrilação do que sem acesso público a desfibrilação (38,5% vs. 18,2%; odds ratio ajustada, após correspondência escala de propensão, 1,99; intervalo de confiança de 95%, 1,80-2,19). O número estimado de sobreviventes em que a sobrevivência com um resultado neurológico favorável foi atribuída ao acesso público a desfibrilação aumentou de 6 em 2005 para 201 em 2013 (P <0,001 para tendência).

Conclusões

No Japão, a maior utilização da desfibrilação de acesso público por espectadores foi associada a um aumento no número de sobreviventes com um resultado neurológico favorável após parada cardíaca fora do hospital por fibrilação ventricular.


Comentários do Blog:
 
O conceito de acesso publico a desfibrilação aparece por meio de um projeto da American Heart Association (AHA) em 1992. Nessa época, foi observado que a maioria das PCR já aconteciam em casa, ou seja, fora do hospital. Então chegaram à conclusão que, treinando os leigos, quando ocorressem PCR em locais públicos a utilização de DEA diminuiria o tempo de desfibrilação e aumentaria o número de sobreviventes.

Estudos como esse do Japão publicado essa semana na New England Journal of Medicine já ocorreram inclusive no Brasil. Em 2000, foi publicado um estudo relevante realizado em cassinos de Las Vegas , EUA, demonstrando que o DEA foi utilizado em 105 indivíduos em 2 anos e com 56 casos de sobrevida para alta hospitalar com intervalo de tempo para uso de 2 a 4 minutos.

Já no Brasil , em 2009 foi apresentado no congresso da AHA um estudo realizado pelo INCOR, em São Paulo que avaliou a sobrevida no metro de São Paulo. Antes da instalação dos desfibriladores, a taxa de sobrevida era de 0% em pacientes de PCR e com a implantação do programa houve uma elevação de sobrevida de 36%.

O conjunto de resultados desses três estudos nos mostra o quanto precisamos levar a sério e tentar sensibilizar programas de acesso e treinamento de suporte básico de vida para leigos.                       

Hoje estima-se que 200.000 PCR ocorram no Brasil e que pelo menos a metade ocorra em ambientes extra hospitalar. Partindo do princípio que, no Brasil, ainda não temos legislação que determine de maneira compulsória o ensino de suporte básico de vida no ensino fundamental e ensino médio, esperar que no ambiente extra hospitalar seja utilizado o DEA adequadamente por leigos está longe a nossa realidade mesmo sabendo que é o ideal para o retorno da circulação espontânea e para a sobrevida.

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20 comentários:

  1. Como leigo no assunto acredito que precisamos aprofundar as pesquisas científicas no sentido do oferecimento de conhecimento básico para a população em geral. Uma outra iniciativa poderia ser o lançamento, por parte de profissionais capacitados como vocês, de blogs, fanpages e APPs voltados a orientação do público leigo. A educação formal pode ser mais lenta do que desejamos. Parabéns pela iniciativa.

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    1. Obrigado Sandro! Belas sugestões! Realmente precisamos aprofundar o debate sobre este tema!

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  2. Excelente artigo Wesley, de muita valia tanto para nós que trabalhamos no aph quanto para leigos! Parabéns!!

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  3. Muito relevante, pois a responsabilidade na realização de manobras básicas em situações de risco iminente não deveria ser apenas dos profissionais atuantes, mas da população de maneira geral. É fundamental possibilitar os leigos conhecimento e prática votada as condutas básicas de RCP com certeza teríamos a diminuição dos agravos e no alto índice de mortalidade em casos de PCR

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    1. Obrigado pelo comentário, Vitor! A maior participação adequada dos leigos na PCR certamente aumentará a sobrevida dos acometidos!

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  4. O Sandro tocou no ponto certo. Falta conhecimento da população. Em 8 anos de APH tive apenas uma PCR que manobras de BLS já haviam sido iniciadas e na ocasião foram fisioterapeutas que fizeram os primeiros socorros.
    População não tem conhecimento mínimo de primeiros socorros.

    Álvaro Paiva

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    1. Obrigado pelo comentário, Álvaro! Precisamos aprofundar e disseminar o debate sobre este tema!

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  5. Ótima matéria Wesley!!! Estamos atrasados quanto a disseminação do DEA em locais públicos. Precisamos levantar essa bandeira para que os responsáveis vejam a real necessidade. Parabéns!!!!

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    1. Obrigado pelo comentário, Luiz! Essa bandeira precisa ser defendida e disseminada!

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  6. Ótima matéria Wesley!!! Estamos atrasados quanto a disseminação do DEA em locais públicos. Precisamos levantar essa bandeira para que os responsáveis vejam a real necessidade. Parabéns!!!!

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    1. Obrigado pelo comentário, Luiz! Essa bandeira precisa ser defendida e disseminada!

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  7. Realmente... a informação é a base para conscientização da população porém o acesso a esse grupo ainda é um grande desafio em nosso país visto o descaso com a educação ainda temos um longo caminho a percorrer. Angelica Curvelo Ferreira.

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    1. Obrigado pelo comentário, Angelica! Realmente o caminho é longo, mas precisamos começar a dar os primeiros passos!

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    2. Sim...claro... nós que temos o privilégio do acesso a informação já estamos dando esses primeiros passos sempre em busca de disseminar o conhecimento... Tenho um esperança de um futuro mais consciente...

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  8. Professor Wesley, muito obrigado pelo ensinamentos deste final de semana, e agradeço tb o acesso a este blog! Deus abençõe sempre!

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  9. Professor Wesley muito obrigado pelo ensinamento deste final de semana, e agradeço o acesso a este blog fantástico! Deus abençõe sempre.

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