domingo, 21 de maio de 2017

Pacientes que sofreram parada cardíaca súbita devem ser resfriados para diminuir a temperatura corporal antes ou após a admissão hospitalar?



Segue abaixo uma recente revisão sistemática da Cochrane:


Pacientes que sofreram parada cardíaca súbita devem ser resfriados para diminuir a temperatura corporal antes ou após a admissão hospitalar?

Publicada: 
15 Março 2016
Autores: 
Arrich J, Holzer M, Havel C, Warenits A-M, Herkner H
 
 
Pergunta da revisão
Nós revisamos as atuais evidências para responder a questão se o resfriamento precoce em pacientes que receberam suporte básico de vida após parada cardíaca súbita tem influência na sobrevida ou no dano cerebral comparado ao resfriamento que é iniciado após a admissão hospitalar. O resfriamento precoce significa o resfriamento do paciente rapidamente pela equipe da ambulância, paramédicos ou médicos, fora do hospital. Nós incluímos sete estudos que vão ao encontro das condições da Cochrane nessa revisão.

Introdução
População
Essa revisão lida com pessoas que receberam suporte básico de vida após parada cardíaca súbita. Parada cardíaca súbita significa que o coração e subsequentemente a circulação pararam. Se essas pessoas não recebem ressuscitação cardiopulmonar precoce as células do cérebro começarão a ter danos irreversíveis e subsequentemente morrem. Se o suporte básico de vida tem sucesso, uma forma de terapia que pode ajudar a prevenir o futuro dano cerebral é o resfriamento do corpo por várias horas de 32°C a 36°C. Essa terapia tem se mostrado benéfica em reduzir o dano cerebral e é recomendada nos guidelines internacionais para tratamento de pessoas que foram trazidas de volta a vida após parada cardíaca súbita.
Intervenção
O momento ótimo para o início do resfriamento é incerto. Essa revisão compara pessoas que tiveram a terapia de resfriamento iniciada antes da admissão hospitalar com aquelas que tiveram a terapia de resfriameto iniciada após a admissão hospitalar.
Desfechos
Os efeitos da intervenção foram medidos pela sobrevivência e dano cerebral, junto com os efeitos colaterais, qualidade de vida e tempo de permanência hospitalar.

Data da busca 
Nós completamos as buscas dessa revisão em Março de 2015.
 
Características do estudo
Os sete estudos incluíram um total de 2369 participantes e comparou os efeitos do resfriamento antes e após a admissão hospitalar. A idade média dos participantes dos estudos estava entre 59 e 68 anos com a maioria sendo homens. Pessoas que não foram incluídas nos estudos foram as vítimas de trauma, com doença terminal, no fim do ciclo natural da vida, gestantes e aquelas que já tinham a temperatura corporal diminuída.
 
Financiamento do estudo
Dois dos sete estudos foram financiados pela indústria médica, quatro receberam recursos do governo ou de organizações sem fins lucrativos e um estudo não recebeu nenhum financiamento.
 
Resultados chave
Nenhum dos estudos encontrou alguma evidência para o benefício do resfriamento pré-hospitalar versus o resfriamento intra-hospitalar. Entretanto, nós descobrimos que em quase todos os estudos uma quantidade relevante de participantes não recebeu o resfriamento pré-hospitalar ou intra-hospitalar de acordo com os guidelines. As razões para isso não foram claramente estabelecidas. A questão se a decisão do resfriamento dos participantes pode ter sido influenciada por outros fatores não pode ser respondida com confiança. O próprio desenho e a condução dos estudos incluídos foi uma preocupação, portanto, para evitar interpretações equivocadas, nós não juntamos aos resultados os estudos individuais. Nós encontramos que em adultos que receberam resfriamento pré-hospitalar o coração estava um pouco mais sujeito a uma nova parada antes de eles serem admitidos no hospital.
 
Qualidade da evidência
Muitos dos estudos incluídos foram de uso limitado pois eles focaram na praticabilidade e segurança do resfriamento pré-hospitalar sem especificamente enfatizar a terapia de resfriamento. Outros fatores que contribuíram para uma diminuição da qualidade da evidência foi que a informação veio de diferentes populações estudadas e por diferentes momentos de aplicação do resfriamento pré-hospitalar. Além disso, havia risco de viés nos estudos. A qualidade individual dos estudos era moderada. Em resumo, a qualidade da evidência para responder nossa questão da revisão era muito baixa.
 
Conclusões dos autores: 
Atualmente, não há evidência convincente para clarear os efeitos benéficos ou os danos da indução do resfriamento pré-hospitalar em comparação com a indução do resfriamento intra-hospitalar. Essa conclusão é baseada em evidência de qualidade muito baixa.


Notas de tradução: 
Traduzido por: Marcelo Tabary de Oliveira Carlucci. Unidade de Medicina Baseada em Evidências da Unesp, Brazil. Contato: portuguese.ebm.unit@gmail.com